A Constituição de 1988 é um marco em relação às conquistas dos povos indígenas no Brasil. O Artigo 231 pode ser considerado um símbolo desse avanço: "são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens".
Compete à União demarcar as terras indígenas. Esse ato não é título de posse nem de ocupação de terras: ela é constitucionalmente exigida no interesse dos índios para proteger seus direitos sem prejudicá-los. Os direitos dos índios sobre essas terras independem de demarcação.
Parágrafo 1º : "São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições".
2º: "As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se à sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes".
O Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, realizado em Altamira, em fevereiro de 1989, adquiriu imprevista notoriedade, contando com a maciça presença da mídia nacional e estrangeira e de movimentos ambientalistas e sociais.
Iconicamente, durante a exposição de Muniz Lopes sobre a construção da usina Kararaô, a indígena Mebêngôkré/Kayapó Tuíra levantou-se da plateia e encostou a lâmina de seu facão no rosto do diretor da estatal em um gesto de advertência, expressando sua indignação. A cena foi reproduzida em jornais de diversos países e tornou-se histórica. Na ocasião, Muniz Lopes anunciou que por significar uma agressão cultural aos índios, a usina Kararaô – nome que é um grito de guerra Kayapó – receberia outro nome e não seriam mais adotados termos indígenas em hidrelétricas. A usina foi posteriormente rebatizada com o nome de Belo Monte.
A partir de 1990, por um período de 20 anos, há um grande hiato na expansão ao longo das estradas que atravessam a região das bacias dos rios Xingu e Tapajós. Os projetos agrícolas regrediram, muitos colonos migraram e a exploração dos interesses econômicos se transformou em espoliação: intensificou-se a extração ilegal de madeira da floresta, o desmatamento, as queimadas, a pecuária e o garimpo.
O aumento de fazendeiros e grileiros em busca de concentração fundiária e a abertura da rede de estradas clandestinas na região do Xingu/Iriri possibilitou o acesso às terras mais remotas, invadindo terras indígenas e Unidades de Conservação.
Homologação da T.I. Arara, habitada pelos Arara.
Homologação da T.I. Capoto Jarina, habitada pelos Mebêngôkre/Kayapó, Mebengôkré/Kayapó Metyktire e Tapayuna.
Homologação da T.I. Kayapó, habitada pelos Mebêngôkre/Kayapó, Mebêngôkre/Kayapó Gorotire, Mebêngôkre/Kayapó Kôkraimôrô e Mebêngôkre/Kayapó Kuben Kran Krên.
A Rio 92 proporcionou um momento de articulação e aliança entre movimentos sociais e organizações não-governamentais ambientalistas junto ao Governo brasileiro para mobilização de investimentos internacionais cujo objetivo era a expansão das Unidades de Conservação e a demarcação das Terras Indígenas.
Homologação da T.I. Menkragnoti, habitada por isolados Mengra Mrari e Mebêngôkre/Kayapó Mekrãgnoti.
A Associação Terra Indígena Xingu (Atix) foi fundada em 1994, segundo a decisão das lideranças xinguanas, que, reunidas no Posto Indígena Diauarum, decidiram criar sua própria organização indígena que representasse legalmente o interesse das comunidades do Parque Indígena do Xingu (PIX) perante os órgãos públicos e privados, em busca de apoio para atender a uma parte das necessidades das comunidades xinguanas. A Atix, desde a sua fundação, atua na área de fiscalização da fronteira do PIX, transporte, saúde e educação, buscando também gerar alternativas econômicas para as comunidades, como a venda de artesanato e mel, valorizando a cultura dos povos xinguanos.
Homologação da T.I. Arawetê/Igarapé Ipixuna, habitada pelos Araweté.
Homologação da T.I. Trincheira Bacajá, habitada pelos Mebêngôkre/Kayapó, Mebêngôkre/Kayapó Kararaô e Xikrin (Mebêngôkre).
Homologação da T.I. Koantinemo, habitada pelos Asurini do Xingu.
Homologação da T.I. Batovi, habitada pelos Wauja.
Homologação da T.I. Wawi, habitada pelos Kisêdjê e Tapayuna.
Homologação da T.I. Kararao, habitada pelos Mebêngôkre/Kayapó e Mebêngôkre/Kayapó Kararaô.
Criação da Flona de Altamira - Unidade de Conservação de Uso Sustentável.
Apresentação da Proposta de Mosaico de Áreas Protegidas da Terra do Meio.
Homologação da T.I. Badjônkore, habitada pelos Mebêngôkre/Kayapó e Mebêngôkre/Kayapó Kuben Kran Krên.
Início da campanha Y Ikatu Xingu, movimento pela recuperação e proteção das nascentes do Rio Xingu, que tem como base o conceito da responsabilidade socioambiental compartilhada - em que todos os envolvidos entendem o Rio Xingu como um bem comum e lutam por sua preservação. Y Ikatu Xingu significa “salve a água boa do Xingu” na língua Kamaiurá.
Criação da Resex Riosinho do Afrísio - Unidade de Conservação de Uso Sustentável.
A freira Dorothy Stang, que defendia o direito de pequenos produtores e extrativistas foi morta por pistoleiros a mando de fazendeiros no município de Anapu (PA).
- Criação da ESEC (Estação Ecológica) da Terra do Meio - Unidade de Conservação de Proteção Integral.
- Criação do PARNA (Parque Nacional) da Serra do Pardo - Unidade de Conservação de Proteção Integral.
- Criação da REBIO (Reserva Biológica) Nascentes da Serra do Cachimbo - Unidade de Conservação de Proteção Integral.
2006
Criação da Resex (Reserva Extrativista) do Rio Iriri - Uso sustentável.
Criação da Flona (Floresta Nacional) do Trairão - Uso sustentável.
Criação PARNA (Parque Nacional) do Jamanxim - Proteção integral.
Criação da FES (Floresta Estadual) do Iriri - Uso sustentável.
Homologação da T.I. Kuruaya, habitada pelos Kuruaya.
2007
Homologação da T.I. Apyterewa, habitada pelos Parakanã.
2008
Criação da Resex (Reserva Extrativista) Rio Xingu - Uso sustentável.
Homologação da T.I. Baú, habitada por Mebêngôkre/Kayapó e Mebêngôkre/Kayapó Mekrãgnoti.
Homologação da T.I. Panará, habitada pelos Panará.
O início da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte foi marcada por muitos protestos e conflitos com a população da região.
Homologação da T.I. Xipaya, habitada pelos Xipaya.
O Xingu+ é um espaço de alianças que tem o objetivo de promover intercâmbios e fortalecer as parcerias entre os povos do Xingu e seus aliados no desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis e a criação de estratégias integradas de gestão de seus territórios.
O primeiro encontro aconteceu em outubro de 2013, em Altamira (PA), com a presença de 100 pessoas, incluindo povos indígenas, ribeirinhos, pesquisadores, organizações aliadas e representantes do Governo Federal. A troca de experiências sobre os modos de vida de cada povo e as formas de gestão e proteção da Bacia do Xingu foram os principais temas abordados nessa edição.
Nesse encontro reconheceu-se a necessidade de criação de espaços de articulação entre os povos do Xingu a fim de estreitar alianças, construir parcerias e criar estratégias comuns de gestão do território.
A migração dominante é intra-regional e, principalmente, rural-urbana. A expansão das frentes tem um forte componente de comando dirigido principalmente por madeireiros, pecuaristas e sojeiros. As frentes estão localizadas preferencialmente em torno das estradas - pavimentadas ou abertas por madeireiros e pecuaristas.